Chamada 65

Tópico:

Educação privada, impacto público?

(julho-dezembro de 2025)

Prazo para recebimento:10 de janeiro de 2025

Coordenadores:

Program for Research in Private Higher Education (PROPHE) University at Albany/Dr. Daniel C. Levy
ITESO, Universidad Jesuita de Guadalajara/Dr. Juan Carlos Silas

 

A educação superior particular (segundo a nomenclatura oficial mexicana) ou privada (segundo a tradição acadêmica e coloquial) vem apresentado um grande crescimento nos últimos cinquenta anos e se posicionou como um tipo de formação acadêmica pós-secundária que, em grande parte, serve como complemento à educação oferecida pelos Estados nacionais. No caso mexicano, a primeira instituição não governamental que ofereceu formação superior foi a Escola Livre de Direito na Cidade do México, em 1912, formalmente reconhecida por um decreto presidencial em 1930. Cinco anos depois, foi fundada a Universidade Autônoma de Guadalajara que, por seu tamanho e presença durante a segunda metade do século XX, é frequentemente mencionada como fundacional. O fato é que as décadas de setenta, oitenta e noventa foram palco de um crescimento significativo e heterogêneo  de instituições de ensino superior privadas no México, na América Latina e em outras partes do mundo, especialmente no que agora se denomina o Sul Global.

Com uma proporção de quase um terço das matrículas a nível global, a educação superior particular/privada se destaca como um fenômeno essencial a ser observado, especialmente na maneira como se relaciona com a comunidade que a rodeia. Esta relação pode ser abordada em termos amplos, como a relevância social, a pertinência acadêmica, a transcendência formativa e laboral, o impacto direto na atenção das tensões comunitárias, etc. Um dos grupos acadêmicos centrais no estudo deste fenômeno é o Program for Research on Private Higher Education ou PROPHE (http://www.prophe.org/), estabelecido desde o ano 2000 na Universidade Estadual de Nova York em Albany, cuja geração e difusão de conhecimento sobre este tema têm sido centrais desde a sua fundação.

Na maior parte do século XX (entre 1950 e 1980, aproximadamente), os estudos sobre a educação superior particular/privada foram, em grande parte, de caráter descritivo, pois indicavam o tamanho das instituições, o crescimento de inscrições e as áreas disciplinares da oferta acadêmica. Isso é compreensível por se tratar de um fenômeno emergente e pouco analisado naquele momento. Poucos estudos analíticos se desenvolveram na década de oitenta, destacando-se o seminal “Higher education and the state in Latin America: private challenges to public dominance”, de Levy (1986), e “Private sectors in higher education”, de Geiger (1986), que abriram o caminho para explorar este tipo de instituições.

Com o passar dos anos, as análises foram se ampliando para outras latitudes: América Latina, Ásia e África, e em menor escala Europa, Oceania e a América anglófona. Alguns estudos que têm contribuído são os de Acosta (2005), Álvarez (2011) e Silas (2005), que mostram como avança a educação superior privada no México; ADB (2012), Joshi e Paivandi (2015), assim como Praphamontripong (2011), que analisam a diversificação na Ásia; Mabizela e Otieno (2007) que contribuem de maneira significativa para o estudo da educação particular na África; Bernasconi (2011) e Teixeira et al. (2017) que abordam a América Latina; Slantcheva e Levy (2007) e Kwiek (2017) revisam o tema nos países da Europa, especialmente na parte central do velho continente, e por último, Bjarnason (2009), Buckner (2017), Hunt et al. (2016) e Kinser et al. (2010) o fazem desde uma perspectiva global.

Finalmente, com a mudança de século e a quantidade significativa de tensões econômicas, políticas, culturais e até sanitárias, é evidente que as instituições de educação superior privadas tiveram que modificar sua maneira de operar e de se relacionar com a sociedade para, por um lado, garantir sua sobrevivência e, por outro, seu impacto na comunidade. Neste momento, cabe perguntar quais são os elementos que caracterizam a educação superior privada, quais são os seus tipos (confessional, empresarial, sem ou com fins lucrativos) e modelos operacionais, bem como a maneira como estas interagem com a comunidade que as rodeia. Esta convocatória procura explorar o papel multifacetado das instituições de educação superior particulares na comunidade, e analisar seu impacto e relação com o ambiente social, acadêmico e produtivo. Propõe-se também estudar como essas instituições contribuem para a equidade, qualidade educativa, pesquisa, vinculação com o setor produtivo e sua interação com políticas públicas e marcos regulatórios.

Considerando a amplitude geográfica do fenômeno de operação das instituições privadas, convidamos acadêmicos, pesquisadores e profissionais da educação a apresentar artigos inéditos que abordem de forma analítica o tema do papel da educação superior privada na comunidade. As contribuições devem focar nos resultados de pesquisas empíricas, estudos de casos nacionais e regionais (não apenas mexicanos), análises sustentadas em dados empíricos e revisões críticas que proporcionem uma compreensão profunda das seguintes linhas temáticas:

          1. Acesso e equidade:

  • Políticas de admissão e seu impacto na inclusão social;
  • Disponibilidade de bolsas de estudo e auxílios financeiros;
  • Estratégias para incorporar estudantes de diversos origens sociais ou econômicas.

    2. Tipologias:
  • Revisões críticas das tipologias existentes;
  • Relação entre os diferentes tipos de instituições privadas;
  • O vínculo dos diferentes tipos de instituições particulares com áreas da comunidade.

    3. Qualidade acadêmica e acreditação:
  • Mecanismos de acreditação e avaliação do desempenho acadêmico;
  • Inovações nos planos de estudo e metodologias pedagógicas;
  • Qualidade educativa entre instituições públicas e privadas, bem como seus resultados formativos.

    4. Relação com o setor produtivo:
  • Alianças estratégicas com empresas e setores produtivos;
  • Programas de estágios profissionais e empreendedorismo;
  • Adaptabilidade dos currículos às demandas do mercado de trabalho.

    5. Contribuição para a pesquisa e desenvolvimento:
  • Criação de iniciativas de pesquisa e projetos inovadores;
  • Colaborações interinstitucionais e com organismos públicos e privados;
  • Impacto da pesquisa no desenvolvimento tecnológico e social.

    6. Sustentabilidade financeira e governança:
  • Modelos de financiamento e diversificação de receitas;
  • Políticas de governança e transparência;
  • Participação da comunidade acadêmica na tomada de decisões.

    7. Relação com universidades e instituições de financiamento público:
  • Programas de colaboração e cooperação com instituições públicas;
  • Transferência de estudantes e projetos conjuntos;
  • Competição e complementaridade na oferta educativa.

    8. Diálogo com os governos:
  • Políticas governamentais e seu impacto na educação privada;
  • Participação das instituições privadas na criação de políticas educacionais;
  • Subsídios, apoios governamentais e marcos regulatórios.

 

Instruções para os autores:

Os artigos devem ser originais e inéditos e não devem estar em processo de revisão em outras publicações. Aceitam-se contribuições em espanhol, inglês e português. Todos os trabalhos serão submetidos a um processo de revisão por pares duplo-cego. Os manuscritos devem seguir as normas editoriais da Sinéctica, disponíveis em nosso site.

 

Contato

Para consultas adicionais: por favor, entre em contato com Juan Carlos Silas Casillas: silasjc@iteso.mx (coordenador editorial).

Esperamos suas valiosas contribuições para enriquecer o debate sobre o papel da educação superior privada na comunidade.

Palavras-chave: educação superior privada, acesso e equidade, qualidade acadêmica, setor produtivo, pesquisa e desenvolvimento, sustentabilidade financeira, governança, políticas educacionais.

 

Referências bibliográficas

Acosta, A. (2005). La educación superior privada en México. IESALC–Unesco. http://www.iesalc.unesco.org.ve

Álvarez, G. (2011). El fin de la bonanza. La educación superior privada en México en la primera década del siglo XXI. Reencuentro, vol. 60, pp. 10-29.

ADB (2012). Private Higher Education Across Asia. Mandaluyong City, Philippines.

Bernasconi, A. (2011). A Legal Perspective on “Privateness” and “Publicness” in Latin American Higher Education. Journal of Comparative Policy Analysis: Research and Practice, vol. 13, No. 4, pp. 351-365. https://doi.org/10.1080/13876988.2011.583105

Bjarnason, S. (2009). A New Dynamic: Private Higher Education. Unesco.

Buckner, E. (2017). The Worldwide Growth of Private Higher Education: Cross-national Patterns of Higher Education Institution Foundings by Sector. Sociology of Education, vol. 90, No. 4, pp. 296-314.

Geiger, R. L. (1986). Private Sectors in Higher Education. University of Michigan Press.

Hunt, S., Callender, C. and Parry, G. (2016) The entry and experience of private providers of higher education in six countries. Centre for Global Higher Education, UCL Institute of Education, London. https://www.researchcghe.org/perch/resources/publications/ppreport.pdf

Joshi, K. M. and Paivandi, S. (2015). Private Higher Education. B. R. Publishing Corporation.

Kinser, K. et al. (2010). The Global Growth of Private Higher Education. Wiley.

Kwiek, M. (2017). De-privatization in higher education. Higher Education, vol. 74, No. 2, pp. 259-281.

Levy, D. C. (1986). Higher Education and the State in Latin America: Private Challenges to Public Dominance. University of Chicago Press.

Mabizela, M., Levy, D. C. and Otieno, W. (eds.). Senegal. Journal of Higher Education in Africa/Revue de l’Enseignement Superieur en Afrique.

Praphamontripong, P. (2011). Government policies and institutional diversity of private higher education: Thailand in regional perspective. Journal of Comparative Policy Analysis: Research and Practice, vol. 13, No. 4, pp. 411-424. https://doi.org/10.1080/13876988.2011.583109

Silas, J. C. (2005). Realidades y tendencias en la educación superior privada mexicana. Perfiles Educativos, vol. 27(109/110), pp. 7-37.

Slantcheva, S. and Levy, D. C. (eds.) (2007). Private Higher Education in Post-Communist Europe. Palgrave Macmillan.

Teixeira, P., Landoni, P. and Gilani, Z. (2017). Rethinking the Public-Private Mix in Higher Education. Sense Publishers.